Pode até parecer um “clichê”, mas para nós jovens negros não é fácil
“permanecer vivo, contrariando às estatítiscas”, como foi cantado pelo grupo Racionais Mc’s, na década noventa na música
“Capítulo
4 Versículo 3”.
Diariamente, somos vítimas de
todo o tipo de violência neste país, especialmente, na capital da Bahia, onde, muitas vezes, essas mortes acontecem sem
que os resposáveis por elas sejam punidos.
Por sermos negros e negras,
vivemos numa constante fuga das estatíticas, tentando, ao máximo, sair do alvo,
apesar de sabermos que “sair do alvo” é quase que impossível, já que a ciência,
no século XIX, apoiada na ideias de Cesare
Lombroso, tratou de nos definir como alvos naturais, ou melhor, como “delinquente
nato”.
Se ao sermos jovens negros e
negras, fugir das estatíticas é uma constante. Quando somos negros e homossexuais, essa fuga,
seguramente, é potencializada, como pudemos infelizmente, ver no caso, recém
ocorrido na capital baiana, de nosso colega de universidade Itamar Ferreira
Sousa. Este que, certamente, tentou árduamente fugir das estatísticas, visto
que chegou a ocupar um dos lugares mais elitistas da sociedade baiana, a UFBA, mas que, infelizmente, veio a óbito com a
idade referida acima.
Ao sermos negros, nossa fuga das
estatíticas tem um motivo específico, o racismo. Nem sempre explícito, mas,
sempre sentido, doloroso, sofrido. Ao sermos negros e homossexuais, não
bastasse o racismo, é preciso, também, irmos de encontro ao machismo, este que também
é doloroso, é também sofrido.
É mesmo uma lástima que todos os
dias tenhamos que contabilizar mortes e mais mortes de nossos irmãos e irmãs
negros na sociedade soteropolitana, uma sociedade com mais de oitenta por cento
de negros e afrodescendentes. E não adianta argumentar que é, justamente, por
isso que somos maioria nos óbitos que ocorrem nessa cidade. Pois, se assim o
fosse, para além de sermos maioria nos óbitos, seríamos também a marioria na
ocupação dos diversos cargos de poder aqui existentes, a saber: reitor, juíz, governador,
prefeito, deputado e afins.
Sem mais, após mais essa tragédia,
cabe-me mesmo rezar para que o Orisá Yansã tome conta de mais esse irmão que
passou para o plano do invisível. Êparrei!
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