Respirar candomblé é acordar cedo em silêncio
Bater paó, saudando os orixás-santos em cada canto do ilé
É ter Tempo pra si de ver o céu de um modo único azul
Por ora, nublado
ou em crepúsculo-aurora
Respirar candomblé é ouvir o bater de palmas exaltadas
no círculo-barracão
E ver sorrisos largos de Glórias
É ouvir o tic nervoso tac de uma máquina de costura
E sentir o cair d’água no chão a cada banho de água cristalina
omí orò
É entender o despachar da porta a cada entrada de irmão em
direções três:
Como o tridente-falo de Exú,
O temido.
O querido.
O.
É perceber cada conta coral,
ladigbà
barras de saia
e adjà
O cantar da conquém
O cacarejar do galo
O berrar
do bode
O silenciar do ibí
O apaziguar do pombo
É usar um branco de doer as vistas
É a promoção da limpeza-ebó
da limpeza do espaço para o espaço-orun
E conviver com as folhas de Ossain
Espada de Ogum
de Yansã espada
de Oxossi
e bete branco
e akokô
e arueira
Comigo ninguém pode!
Respirar candomblé é sentir arrepios causados por uma voz
emocionada entoante de rezas-cantigas de Exú a Oxalá.