segunda-feira, 22 de abril de 2013



diria Jocevaldo Santiago que sou um poeta da chuva

contudo, com esse frio,  

com esse gotejar de gotas

no chão

de cimento no chão

de barro...

com esse  ritmo

harmônico

melódico

com essa chuva de mamãe Osum,

de mamãe Nanã

de mamãe...

há outra coisa pra falar que não da água mais límpida

mais transparente

mais serena?

sábado, 13 de abril de 2013



Pode até parecer  um “clichê”, mas para nós jovens negros não é fácil “permanecer vivo, contrariando às estatítiscas”, como foi cantado pelo grupo Racionais Mc’s, na década noventa na música “Capítulo 4 Versículo 3”.
Diariamente, somos vítimas de todo o tipo de violência neste país, especialmente, na capital da Bahia,  onde, muitas vezes, essas mortes acontecem sem que os resposáveis por elas sejam punidos.
Por sermos negros e negras, vivemos numa constante fuga das estatíticas, tentando, ao máximo, sair do alvo, apesar de sabermos que “sair do alvo” é quase que impossível, já que a ciência, no século XIX, apoiada na ideias de Cesare Lombroso, tratou de nos definir como alvos naturais, ou melhor, como “delinquente nato”.


Se ao sermos jovens negros e negras, fugir das estatíticas é uma constante.  Quando somos negros e homossexuais, essa fuga, seguramente, é potencializada, como pudemos infelizmente, ver no caso, recém ocorrido na capital baiana, de nosso colega de universidade Itamar Ferreira Sousa. Este que, certamente, tentou árduamente fugir das estatísticas, visto que chegou a ocupar um dos lugares mais elitistas da sociedade baiana, a UFBA,  mas que, infelizmente, veio a óbito com a idade referida acima.

Ao sermos negros, nossa fuga das estatíticas tem um motivo específico, o racismo. Nem sempre explícito, mas, sempre sentido, doloroso, sofrido. Ao sermos negros e homossexuais, não bastasse o racismo, é preciso, também, irmos de encontro ao machismo, este que também é doloroso, é também sofrido.

É mesmo uma lástima que todos os dias tenhamos que contabilizar mortes e mais mortes de nossos irmãos e irmãs negros na sociedade soteropolitana, uma sociedade com mais de oitenta por cento de negros e afrodescendentes. E não adianta argumentar que é, justamente, por isso que somos maioria nos óbitos que ocorrem nessa cidade. Pois, se assim o fosse, para além de sermos maioria nos óbitos, seríamos também a marioria na ocupação dos diversos cargos de poder aqui existentes, a saber: reitor, juíz, governador, prefeito, deputado e afins.

Sem mais, após mais essa tragédia, cabe-me mesmo rezar para que o Orisá Yansã tome conta de mais esse irmão que passou para o plano do invisível. Êparrei!