“Professor
de roubo é soldado do Exército”. Esse foi o título da matéria de capa do jornal
Correio (o que a Bahia quer saber), desta terça-feira, 10 de setembro de 2013.
Ao ver o referido título, um verdadeiro disparate, eu, professor formado pela
UFBA, após cinco anos no curso de Letras vernáculas com língua estrangeira
moderna-inglês, fiquei a me perguntar: valeu a pena estudar tanto? Depois do
ocorrido, tenho cá minhas dúvidas.
Mas,
de qualquer forma, continuo convicto de que a palavra professor, título
outorgado por uma instituição estadual ou federal, tem uma carga semântica
histórica. Dando uma pesquisada rápida aqui, no Houaiss digital, achei, na
segunda acepção do
termo professor: “aquele que ensina, ministra aulas (em escola, colégio,
universidade, curso ou particularmente), mestre”, ou ainda, como diria Paulo
Freire em seu livro Pedagogia da autonomia: o professor [grifo meu] “corporeifica
(sic) as palavras”, ou seja, educa pelo
exemplo.
Parece, no entanto, que o jornal citado não levou em conta o
sentido denotativo da palavra em questão nem, ao menos, refletiu sobre o
impacto do uso da mesma, quando a relacionou à imagem de um roubo, esse que foi
um furto. Me pergunto mais uma vez: foi de forma inocente? E logo tenho a
resposta: de forma alguma, na medida em que, como aprendi na disciplina Análise
textual, durante um semestre: quem fala, faz isso de algum lugar, de forma que
o discurso nunca é neutro. Sendo assim, algumas inquietações me ocorrem: queria
o jornal depreciar a já tão deturpada e desvalorizada imagem do professor?
Certamente, sim, visto que, inclusive, a construção “professor de roubo” soou estranha,
quase agramatical, aos ouvidos de um falante nativo de português, o que mostra
um “forçação” de barra por parte dos redatores.
Por fim, creio ser um dever, ao concluir este texto, redigido no
calor da emoção de ver, neste início de manhã, o nome de uma profissão tão
necessária para a formação de jornalistas, de escritores e de leitores críticos,
que lerão tais matérias; uma profissão tão necessária para o desenvolvimento de
uma sociedade, dizer que seria de bom tom para um jornal, que já não anda tão
bem assim, se retratar perante toda uma classe formadora de opinião, que são os
professores.