quarta-feira, 30 de março de 2011

segunda-feira, 21 de março de 2011


        Naquela noite de chuva, ao encontrá-lo na sala de bate-papo virtual, eu, ainda empolgado com a primeira experiência, disse-lhe:_ hoje dei uma palestra sobre o dia internacional de luta pela eliminação da discriminação racial.  Ele, do outro lado, como numa espécie de desdém, apenas usou uma interjeição e, logo após, completou seu discurso, dessa forma: _Hum! Sei, mas hoje foi o dia de luta contra a chuva, as gotas que caem na nossa cabeça inundando nossas casas, almas e esperanças... Aquilo foi poético. Mas, ao mesmo tempo, dolorido de ler...

          Várias foram as imagens que vieram a minha mente. E rapidamente compreendi que aquela curta fala se referia, a nada menos, que a todas as formas de teorias e discursos sem prática. E que, muito além daquela falação, a realidade era dura, era outra e real... E o pior, pude perceber que naquelas curtas linhas, havia um contra-discurso, o qual mostrava claramente que, na maioria das vezes, essas falas e palestras disso e daquilo não conseguem chegar na ponta que mais precisa e, quando chega, de quê adianta?

sexta-feira, 11 de março de 2011

Que seja violenta minha poesia
Que seja ferro e  fogo
pau e pedra

Que seja dor,
quando preciso for
Que seja real
Ferozmente natural

Que seja do gueto,
periferia ou favela
que assim seja ela

Quero minha poesia
não vazia
cantando outra Bahia
Que fale de quem mora nas marquises,
e que não pode ter crise
essa poesia sem psicólogo

Que fale da paisagem
nem tão verde
aquela cinzenta e amarronzada
do condomínio bloco à vista

Uma poesia que pega ônibus
e pula janela
poesia que mergulha embaixo do torniquete
pula a borboleta
e pega traseira por falta de transporte

Uma poesia que cata lata e lixo
que o diga  Carolina
Essa poesia que cata resto de feira
Que é doméstica. Não mais mucama

Uma poesia escrita a sangue
Aquele derramado todos  
dias nas vielas, ladeiras e escadas
fruto de vários tipos de violência
e mostrado como show nos canais de tv

Uma poesia que bate atabaque
e come de mão
que toma a benção 
e bate cabeça
uma poesia de pés no chão