terça-feira, 30 de março de 2010

As mãos se tocam
Os olhares se cruzam
Repentinos arrepios se registram
Corpos trêmulos se apertam,
se apertam
Sente-se o outro.
Sente-se a si.

A emoção se eleva
Os olhos se fecham
Enfim, um beijo,
dois, três...

Naturalmente,
num movimento libertário,
movem-se os braços e
as pernas.
Roupas ao longe,
sente-se o outro.
Sente-se a outra.

Peles molhadas,
carinhos intensos,
Perfeito encaixe,
Balanços marítimos,
Abstração concreta.

A língua lambe os lábios,
lambe a nuca, lambe.
Os dedos tocam e tocam e tocam...
Tocam leve, quase escorregam.
Do pescoço aos pés,
Faz seu percurso
Dos pés ao pescoço,
seu caminho.

Nesse vai e vem,
cinturas sensíveis
se acham.
Delírios vários,
prazeres múltiplos

Faltam palavras
Surgem sussurros
Surgem gemidos
Sobra respiração

Fantasias diversas num
Kamasultra ilimitável
na pia de prato,
na areia da praia,
em meio ao mato...
tudo é possível
tudo é propício
tudo é provável

Violência sutil
Dois corpos...
Um corpo.

terça-feira, 23 de março de 2010

Amazonenses sementes
nordestina cera sendo,
enfeita menino, menina

chinesas plásticas colorem
as coreanas brilhantes reluzem
forma-se um círculo
em segredo,
com segredo,
pro sagrado

Em roda samba
capoeirando na ginga
do asé, mandinga
O Mandingo

Amuleto pra uns
enfeitando outros
é fashion

As brancas vermelhas
guerreiras pacíficas
Amarelas azuis
trapaçantes justiceiras
de segunda a sexta, sagradas
de domingo a sábado
às vezes profanam
respeito e fé,
tem asé
e ousadia
da África à Bahia,
Guia.



Uilians Souza

quarta-feira, 17 de março de 2010

Eu vi.
Eu vi um homem barbudo,
desanimado,
corpo curvado
sem olhar nos olhos...

Suas sujas roupas
apontavam o descaso
pela vida não vivida...

Aquele homem comia devagar
com sua descrença
na crença de um mundo melhor.
Com seu cansaço
daquela vida de trapos...
e sua entrega
perante a vida
tão dura e sem saída.

Aquele negro homem
número
abria o saco,
levantava o garfo,
comia sem gosto
engolia o desgosto
da rua mais sua.
que minha...

Coletava arroz, feijão,
de tão junto amigo irmão
e comia, comia,
apenas comia

Aquele homem era um soco
no rosto
sem cama
nem gatos
em meio a ratos
servia de espelho quebrando o estético
com choque mais que elétrico
Aquele Sem Teto sem
sem teto.