sábado, 6 de novembro de 2010


Poesia Negra incomoda.
Ah! Como poesia negra incomoda...
As pessoas relutam,
disfarçam,
mas é claro que se incomodam.

Elas querem uma poesia universal.
Universal de quem?
Pra quem?
De onde?
E por quê?

Kafka, Drummond, Bourdieu,
todos eles (homens)
não falaram de um lugar?
De uma cultura?
De uma visão de mundo?

É por isso que insisto:
Não quero ser universal!
Sou daqui, local.

Falo de um Castelo,
nem  tão branco, é fato.
De uma Salvador,
que nem sempre salva...
E de uma Bahia extremamente estereotipada
que se quer revisitada_ e por que não?_ revisada.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010


Por Uilians Souza e Sérgio Bezerra

Sextas Poéticas é um encontro quinzenal que acontece para recitar, cantar, contar e viver a arte em suas várias possibilidades; capitaneado por um grupo de estudantes do Instituto de Letras da Universidade Federal da Bahia e uma de pedagogia, da Uneb, no Pátio do IL/UFBA. O ‘Sextas’ ocorre pontualmente às 18 horas, obviamente às sextas-feiras.


Em 2009, alguns membros desse grupo reuniam-se em esteiras, sobre a grama, em frente do PAF III e à Biblioteca reitor Macedo Costa para recitar, cantar e conversar sobre poesia, arte e cultura no fim de tarde das sextas-feiras. Um dia surgiu a idéia de “entrar” no prédio com aquele encontro, ampliando-o.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

 Aperto seu corpo de uma forma arrebatadora. Tenho a intenção de que você não mais me esqueça. Passo minhas mãos pela sua cintura e subo pouco a pouco, transitando pelo meio das suas costas. Enrosco meus dedos pelos seus cabelos, segurando-os com minhas grandes e macias mãos.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010


Preta palosa...
pare, 
olhe,
pense...


Pois pra ela

com ela
é preciso pisar
pequenamente miudinho...


Pra ela 
pra sempre 
o mundo é pouco. 

Quer mais, quer muito,
quer paz e 
guerra
e se faz
mulher preta com P.


terça-feira, 17 de agosto de 2010

Aquela brusca notícia, me fez parar e refletir por um instante, o qual pareceu mais uma eternidade. Senti um aperto no peito e, ao mesmo tempo, um desânimo que me tomava todo o corpo. A partir dali, entrei  numa espécie de túnel do tempo e me lembrei do passado com tanta intensidade, que chegava quase que a reviver aqueles momentos de infância, não tão distantes, nos quais eu ouvia aquela rouca e serena voz dizendo: _"Opa, Nininho!", numa espécie de saudação nos momentos em que eu passava pela frente de sua casa. Apelido esse, que adquiri ainda quando criança, mas que caiu em desuso, permanecendo apenas no meio da velha guarda da comunidade.


E lá, sempre estava ele, também sereno, a observar toda a comunidade como um tipo de ancião, apesar de em muitas ocasiões não ter sido tratado como tal, visto que, sofria de um mal que, ainda hoje, acomete a muitos negros e afrodescentes em várias partes do país: o alcoolismo; esse que muitas vezes aparece como uma "válvula de escape"; no sentido de que contribui para o esquecimento de variados  problemas diários e que acaba por causar outros, principalmente os familiares.
Seu nome: Domingos, mais conhecido como "Seu Martin da Vila", uma pessoa querida e que, com certeza, vai deixar saudades naqueles que tiveram a oportunidade de conhecê-lo.

Asé, Seu Martin! Descanse em paz!

sábado, 7 de agosto de 2010

(Título dado em homenagem e respeito 
à Marise de Santana) 


Fixo olhar ao longe e me vejo perto. 
Agachando-me, quase me arrasto. 
Nesse instante, 
vejo uma caixa de madeira retangular.
Alguns o chamam de baú e
usam-no para guardar
livros, roupas e jóias.
No meu, guardo apenas espantos,
medos, angústias.
Ajeitando-o, 
de um lado para outro,
acabo por abri-lo.
Fazendo isso, 
ouço gritos medrosos.
Vejo caras famintas de animais 
(humanos?)

Olhando pro céu,
visualizo um pássaro metálico.
À minha frente, notebooks e MP X.
Pelas ruas,
prédios de taipa,
inundação seca.
Muita seca.
Muito seco! 
Volto a mim,
e reviro-o com força. 
Minhas mãos são puxadas. 
Meu corpo é puxado. 
Ao passar em Nasdaq, 
embaraço-me em números painéis. 
Debato-me como uma aranha presa em teias
virtualmente reais e escorrego, 
fazendo-me cair em meio a palmas cruas, 
ironicamente,
cozidas pelo sol. 

Indo ao Japão,
me estarreço com o trem bala.
Esta que aqui,
me acorda;
ali, me assusta;
que lá, me amedronta
e acolá,
me mata.
No país do carnaval,
presencio o jegue, 
o burro, o bode. 

Numa foto,
vejo o índio,
o asiático,
o europeu-africano.
Ouço o som da percussão,
do pau-de-chuva...
piano.

Improvisando a harmonia,
crio ritmos dançantes.
Num (mesmo) país, 
de menos dez a
quarenta positivos,
usa-se lã, 
couro e 
peles. 
Usam-se plásticos, 
papelão e 
jornais. 
Alguns são aquecidos,
outros esquecidos.
O condicionador condiciona não ar.
Mas  o corpo. 
Mas a mente. 
Nas marquises,
mais um dorme ao relento 
sem alento.

Por entre as casas,
TV a cabo,
LCD e net.
Fibra ótica,
rádios a pilha,
candeeiros e gatos...
de  luz, de  água...
Entro no carro,
curto um som ambiente. 
Por fora, 
uma flanela é sacudida,
é estendida. 
No ônibus, 
som estridente, 
vozes várias, 
apertos múltiplos. 

Pela orla,
desfruto o mar.
Por Saint Keit, aprecio
uma paisagem enfeitada de palafitas,
de depressões,
geograficamente mentais.

Nas periferias,
sem céus,
só se arranha
nos barracos de madeiras plásticas. 
Na abundância da pobreza, 
se atracam protestantes; 
se esbarram evangélicos e se desejam católicos.
Em meio à fé, 
engodos e interesses desinteressantes.  

No chão de barro vermelho,
mesa-branca.
Aos concretos,
templos-castelos.
Castelos? 
De manhazinha, 
mesa farta,
sucos fartos,
frutas fartas.

Ao meio dia,
mesa farta,
sucos fartos,
frutas fartas.
De noitinha, 
mesa farta,
sucos fartos,
frutas fartas.

Na outra ponta,
café colorido de preto.
Mais tarde,
a cola,
a erva
e a pedra
pintam tudo de uma cor
brancamente pálida.
Com vinte e dois anos calibre, 
três oito. 
Pobre rico.
Rico pobre. 
Não se encontram
só se separam 
no Quinta; 
no Campo 
e no Jardim...
democraticamente
excludente da Saudade
onde micróbios e germes somente 
promovem a união
ao fazer um banquete eclético.


sexta-feira, 11 de junho de 2010

Meus olhos entravam nos seus e se perdiam.
Às vezes, saíam, pulavam, desciam...


Desciam pela sua nuca e pescoço.
Paravam em seus seios fartos peitos

Sensação que me transbordava a boca
Promovendo pensamentos insanos

De repente, voltava a mim,
sacudia o que controla meu corpo,
olhava o entorno e me compunha...

um tanto perdido naquele espaço
depois de já ter me encontrado.

quinta-feira, 10 de junho de 2010




Não consigo. Não consigo ver essa foto e não me indignar. Não me revoltar enquanto adepto do candomblé. Enquanto periférico, enquanto negro que sou. Me vem um sentimento forte de tristeza e, ao mesmo tempo, um sentimento de que é preciso lutarmos para que coisas como essas deixem de acontecer em nossa cidade, nosso estado, nosso país e_ por que não?_ em nosso mundo! Tem fé!! Tenho fé de que as forças estão aí no ar, no mato, no vento e em todos os elementos da natureza. E que, sendo assim, aqueles que atentam contra Ela, um dia hão de pagar!!

Saiba mais no link: http://www.atarde.com.br/cidades/noticia.jsf?id=844491#

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Numa noite
ou dia
Numa praça, rua,
ou casa

Olhos vidrados
testas crispadas
As mãos seguram o queixo,
joelho e face

Ali, um artista famoso
ou pessoa comum
se exprime
se revela
se exibe

Seu corpo gira,
se ergue,
se curva

Seus dedos e mãos se mexem,
miram o céu,
o chão, a você...
a mim

Suas pernas pulam
Seus pés pisam forte
como suas palavras

Ali, ele é único.
Ele é ele.
Ele é outros.
E se transforma em menino
mulher
animal

Ali, se é novo, é velho.
Se velho, novo.
Se um ou outros,
poeta.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

É muito fácil!!!

Muito  fácil falar de ressentimento com a barriga cheia.

É muito, mas muito fácil falar de fragmentação da identidade 

quando não se tem a necessidade de se afirmar, pois se está do outro lado.

É muito fácil ser cético 

quando não se sente no corpo as vibrações de outro corpo.

É muito fácil ser homofóbico

quando não se entende os porquês do outro.

É muito...muito difícil nos afirmarmos enquanto racistas, machistas e tantos outros "-istas" existentes. 

terça-feira, 30 de março de 2010

As mãos se tocam
Os olhares se cruzam
Repentinos arrepios se registram
Corpos trêmulos se apertam,
se apertam
Sente-se o outro.
Sente-se a si.

A emoção se eleva
Os olhos se fecham
Enfim, um beijo,
dois, três...

Naturalmente,
num movimento libertário,
movem-se os braços e
as pernas.
Roupas ao longe,
sente-se o outro.
Sente-se a outra.

Peles molhadas,
carinhos intensos,
Perfeito encaixe,
Balanços marítimos,
Abstração concreta.

A língua lambe os lábios,
lambe a nuca, lambe.
Os dedos tocam e tocam e tocam...
Tocam leve, quase escorregam.
Do pescoço aos pés,
Faz seu percurso
Dos pés ao pescoço,
seu caminho.

Nesse vai e vem,
cinturas sensíveis
se acham.
Delírios vários,
prazeres múltiplos

Faltam palavras
Surgem sussurros
Surgem gemidos
Sobra respiração

Fantasias diversas num
Kamasultra ilimitável
na pia de prato,
na areia da praia,
em meio ao mato...
tudo é possível
tudo é propício
tudo é provável

Violência sutil
Dois corpos...
Um corpo.

terça-feira, 23 de março de 2010

Amazonenses sementes
nordestina cera sendo,
enfeita menino, menina

chinesas plásticas colorem
as coreanas brilhantes reluzem
forma-se um círculo
em segredo,
com segredo,
pro sagrado

Em roda samba
capoeirando na ginga
do asé, mandinga
O Mandingo

Amuleto pra uns
enfeitando outros
é fashion

As brancas vermelhas
guerreiras pacíficas
Amarelas azuis
trapaçantes justiceiras
de segunda a sexta, sagradas
de domingo a sábado
às vezes profanam
respeito e fé,
tem asé
e ousadia
da África à Bahia,
Guia.



Uilians Souza

quarta-feira, 17 de março de 2010

Eu vi.
Eu vi um homem barbudo,
desanimado,
corpo curvado
sem olhar nos olhos...

Suas sujas roupas
apontavam o descaso
pela vida não vivida...

Aquele homem comia devagar
com sua descrença
na crença de um mundo melhor.
Com seu cansaço
daquela vida de trapos...
e sua entrega
perante a vida
tão dura e sem saída.

Aquele negro homem
número
abria o saco,
levantava o garfo,
comia sem gosto
engolia o desgosto
da rua mais sua.
que minha...

Coletava arroz, feijão,
de tão junto amigo irmão
e comia, comia,
apenas comia

Aquele homem era um soco
no rosto
sem cama
nem gatos
em meio a ratos
servia de espelho quebrando o estético
com choque mais que elétrico
Aquele Sem Teto sem
sem teto.