domingo, 20 de novembro de 2016

O mau com vocês é não entenderem o X da questão
Estive aqui,
você fez Biko
Ainda assim,
sou generoso

O machado de Assis foi divisor de águas,
de tempos
As Flores de Maísa nasceram em seus Parks
viraram Rosas
Timbó é planta
venenosa
Pra nós, antídoto

E eu Zumbi no seu ouvido!

Mártir virou rei,
o King
A lima de Limeira é doce
Azeda só se o quiseres

E eu Zumbi no seu ouvido!

E Ali, você aprendeu o que era murro

Benquela também é toque de berimbau
pra te derrubar
Já os Santos de Uzeda são outros
É orixá

E eu Zumbi no seu ouvido!

Aquatune  nos lembra a água
E como essa,
revolta

João, de Deus, não tinha nada
E lhe tirou a paz
Luiz Gonzaga são dois
Mas apenas um tocou a Lira de Faustino
pra te ensurdecer

Zumbi, pra você, fantasma
Mais que ancestral para nós
E saiba:
O reino de Dan dará bons caminhos


E eu Zumbi no seu ouvido!

terça-feira, 1 de dezembro de 2015


De colar em ti
vontade
 
De colar estava o seu pescoço
num misto de prata,
azul-turquesa e
vinho sementes
 
De colar, você rainha
 
Colar no seu colo
eu quero
 
Colar com você
Meu desejo último neste instante
E você me instiga sutil
Me castiga de colar e só
Nua
 
Teu colo egoísta te despiu
E ficaste com um colorido
apenas
em teu colo
num contraste belo

domingo, 11 de outubro de 2015

Viver em Salvador nos dias de hoje é perceber que esta cidade passa por vários problemas, principalmente, no que tange à segurança pública, essa que acaba por mexer em nossas vidas em todos os sentidos.


No entanto, é importante perceber também que, para além dessa violência que aflige nossas comunidades periféricas (eu sei, não só elas), existem frentes outras que estão fazendo o diferente, que estão lutando para concretizar coisas outras, experiências outras, em vários âmbitos, a fim de nos guiar para uma direção diferente.

Vários são os exemplos que surgem a cada dia nas comunidades e aqui cito apenas alguns, como o “Qual a sua pegada” (https://www.facebook.com/Qualasuapegada?fref=ts), de Alexandre Alves,  que vem fazendo um trabalho importantíssimo no sentido de dar visibilidade a nós, ao nosso fazer diário, seja em Plataforma ou em Salvador como um todo; como o Grupo de capoeira Raízes do Brasil, do Mestre Timbó (Elcio Miranda de Almeida), Timbó que vem há mais de 30 anos desenvolvendo, em Castelo Branco, um trabalho fundamental através da capoeira, da música, da educação; como o PECC, em Cajazeiras, de Maísa Flores, com o seu pré-vestibular comunitário e seu curso de inglês, do qual fui bolsista nos idos dos anos 2000 e depois professor etc, etc.



Diria Edson Gomes, “mesmo que a TV não mostre, aqui vamos nós”, e essa frase nos acompanha há tempos. E estamos indo sim, porém,  noutra direção que não aquela para a qual nos empurram diariamente, seja nas filas do SUS, esse que desenvolve campanhas e mais campanhas, como a mais recente intitulada “outubro rosa” que tem levando muitas mulheres a acordarem cedo para fazerem exames de prevenção ao câncer de mama, mas que, após fazerem tais exames, não podem mostra-los a um médico especialista, visto que “não tem médico...”, seja através das escolas, muitas delas sem professores concursados, pois não se tem concurso há anos e abarrotadas de contratos temporários, o que leva os alunos a uma formação, muitas vezes, deficientes por vários motivos.




Menos desesperador, contudo, é compreender que de fato internalizamos a frase de Steve Biko “estamos por nossa própria conta”, o que nos leva a arregaçar as mangas e fazermos nós mesmos. Por isso, um salve a todos os educadores sociais, produtores, grafiteiros, artistas de modo geral que tanto vêm contribuindo para que a capital da Bahia, possa passar por essa turbulência, se não ilesa, com menos sofrimento.

segunda-feira, 27 de abril de 2015

O cenário é de guerra, já que houve desabamentos...aqui; ali. Mortes. Carros ilhados, hospitais e escolas alagados, infelizmente. Não é a primeira vez que isso acontece em Salvador. Mas, como é possível perceber, não é de interesse dos nossos representantes legais cuidar das áreas mais afetadas de nossa cidade, áreas essas que compreendem os chamados bairros populares como Calabetão, que vem sofrendo com tudo isso, há algum tempo, juntamente com Castelo Branco, Cajazeiras e São Caetano, entre tantos outros.












A cada frente fria, tempestade, ou seja lá qual for o nome que queiramos dar a esse mundaréu de água de cai sobre a capital da Bahia, a sensação é a mesma: um desamparo total_eu sei, alguns irão dizer que é algo que está além de nossas competências_discordo.
 É sabido por todos que, historicamente, desde sua fundação, o relevo da cidade do Salvador apresenta fisionomias diferentes, um relevo cheio de altos e baixos, sendo, por isso, tal cidade, estrategicamente, escolhida para ser a sede do governo nos idos do século XVI. 




Atualmente com 466 anos, ainda não foi pensado um projeto de contenção de encostas em larga escala, tendo em vista o bem-estar da população soteropolitana, que, a cada chuva, sofre com alagamentos, desmoronamentos, prejuízos diversos e o pior: com vidas ceifadas precocemente.
Nesta segunda-feira, 27 de abril, o quadro não está diferente. As feições são de decepção, sentimento de desesperança; os engarrafamentos são quilométricos e as caminhadas são muitas. Hoje, mais uma vez, fomos impedidos de exercer nossa cidadania, já que não pudemos nem ir nem vir. Ficamos parados. Não ouve aula. Trabalho, não houve. Amanhã_ quem sabe?_estaremos nós contar todas as crianças soterradas; todas as casas desabadas; todos os móveis destruídos e sonhos roubados.

sexta-feira, 3 de abril de 2015

Lágrimas nos olhos por mais um
Lágrimas
Me conter não pude
E também não pude mais contar
Quantas as mortes?
Quantas as vidas ceifadas?
Não queria ouvir
E me negava
Os ouvidos se fechavam seletivos
Os olhos cerravam para mais uma
notícia e só
quiçá um número
de um tal Eduardo
Dudu, por ser criança
Foi lá no Rio
Mas já fora aqui na Bahia
No bairro do nordeste
A história se repete
num complexo outrora de alemão
que tornou-se de baiano
neste instante.

terça-feira, 3 de março de 2015

Desolador  foi o choro
Foi a gota de água límpida
escorrendo pelo rosto da criança
que ouvira o estampido de uma bala
 
Ouviam-se soluços de medo
Tristeza travestida de inocência
Impotência foi o que senti
De ter
[que suportar aquela dor de outrem
 
E sempre ela
a bala-pivô
transformando-se em números
 
Inúmeros casos
 
Um assalto
no Castelo
No Cosme nem Damião
 
Mais um na Dois
E mais treze  no Cabula
Quantos óbitos?

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Porque é vida o Orixá
em mim, nego

Porque é vivo o Orixá
eu me nego
...
Porque é vivo o Orixá
eu sou vivo
eu só vivo

eu digo viva!

quinta-feira, 30 de outubro de 2014


Pela janela um espelho
Telha, muita tábua
E tanta madeir’ (ichi!)
é que vejo
É o que me ver

Muito mato.
Mato-me de só olhar uma criança
menina de rosa cor

A fragilidade em meio a escassez
não chega e cega

Cerca de arame
ou bambu chinês
num Brasil brasileiro

Varal de estacas
e panos estendidos
Assim como meu espanto

Um céu azul de nuvens poucas em contraste
com chão de barro
com asfalto de meio fio, meu fio

Água de balde e frio intenso
de calor
Num condomínio qualquer

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Eis que me vem à mente a imagem da capoeira sendo perseguida, como capoeiragem, ou ainda, como vadiagem. Capoeira como crime. Criminosa. Por isso mesmo, condenável pelas autoridades do século XIX.



Todavia, com o passar do tempo, já no século XX, a capoeira teve enfim a chance de ser reconhecida como arte genuinamente brasileira pelo então presidente Getúlio Vargas. Podendo, assim, atravessar o atlântico, chegando a virar coisa de “gringo” e, em alguns casos, apenas deles, mas isso é outra história.

Hoje, porém, é possível ver essa dança luta, graças ao esforço de muitos mestres e professores anônimos, adentrando o espaço formal e conservador da escola_pública principalmente_através do programa Mais Educação. Quem diria? A capoeira, por tanto tempo perseguida, hoje frequenta os bancos escolares, inclusive, aqueles acadêmicos.
Capoeira arteira e de sotaque.

Infelizmente, o frequentar da capoeira a tais espaços não se deu de forma harmoniosa, já que quiseram uma capoeira com método; com começo, meio e fim.  Quiseram um mestre com diploma, quiçá, certificado. Um mestre independente por muito tempo não foi bem quisto. Não era o foco um mestre baseado em experiências adquiridas no dia a dia da capoeira: uma roda, um armar de berimbau, uma palma rítmica envolvente, um reverenciar daquele que é o leme da capoeira, o berimbau. “A palma de Bimba é um, dois, três”.

Dessa forma, lá se foi o mestre em busca do bendito diploma. Não para satisfazer os burocratas e preconceituosos. Mas, sim, porque entende ele que, estando inserido no espaço da periferia, onde historicamente nós, jovens e negros, temos sido desprovidos de referências positivas, faz-se necessário estudar com afinco e dedicação, como forma de demonstrar que outra história é possível. Por tudo isto, parabéns, Mestre Timbó. Parabéns pelo esforço. Parabéns pelo canudo, que é simbólico, mas é preciso. Só nós sabemos.

terça-feira, 7 de outubro de 2014


Maria descia
batendo palmas
Esbravejava Maria

Olhares em Maria
Fitaram Maria
Ela ia
andando

Parou à porta Maria
Gritou.
Cobrou.

As palmas eram secas
Pedras ao longe
Risco na porta
E parede
E janelas quebradas

Maria sujou a tinta
por um instante
e por dois
Enquanto brotam cédulas
pela fenda rasteira
da porta

Essa Maria...


domingo, 5 de outubro de 2014


Moscou
pretérito perfeito

Moscou de moscar
é gíria
Verbo criado
Falado

Larguei o verbo, Moscou 


Mais que um verbo
Advérbio de lugar
Um só lugar em três
É um
É dois
É três
Parece jogo de criança
Esconde-esconde

Mostra-se vivência de adulto

E era barro
e era gato
inanimado era

Gambiarra, um resumo
Uma síntese se quer
daquela depressão
Rodeada de escadas

E cada escada
mil degraus
Subi de grau
Subi degrau era rotina
Menino, velho, menina
bastava subir.